terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Colégio Nossa Senhora de Lourdes, o ensino das Artes Visuais e Dona Isolda (Período antes da década de 80)

Pesquisa: História do ensino das artes visuais na Paraíba em imagens e documentos: o caso das escolas particulares (Período antes da década de 80)
Instituição pesquisada: Colégio Nossa Senhora de Lourdes
Coordenador da pesquisa: Prof. Dr. Erinaldo Alves do Nascimento
Colaboradoras da pesquisa: Sandra Valéria e Vera Luna

I – BREVE HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

O Colégio Nossa Senhora de Lourdes (ou Lourdinas) foi fundado no dia 4 de março de 1940, em João Pessoa (PB). Iniciou suas atividades educacionais com 45 alunos, estabelecendo-se, provisoriamente, na Rua Monsenhor Walfredo Leal, no. 476, no bairro de Tambiá. Foi o primeiro colégio da Ordem Nossa Senhora de Lourdes no nordeste brasileiro e, para sua fundação, contou com apoio e incentivo decisivos do Arcebispo da Paraíba, na época, Dom Moisés Coelho, além da coragem, determinação e idealismo de seis religiosas que chegaram à Paraíba no navio Itaquera, no dia 02/ 03/1940.

No ano seguinte (1941), o colégio foi transferido para a Rua Epitácio Pessoa, nº. 208, onde funciona até hoje.


Detalhe da fachada lateral do Colégio.

Consolidou-se ao longo desses anos como um colégio que prima pela qualidade de ensino e pela formação moral e espiritual dos jovens, já que se trata de um colégio religioso católico. Atualmente, funcionando em instalações amplas e modernas, tem como missão: promover a educação integral do educando com vistas ao exercício pleno da cidadania, tornando-o capaz de interferir, com ética e competência, no processo sócio-econômico-cultural do Brasil.

Reconhecido como um colégio que oferece condições para o aluno se desenvolver em todos os aspectos, na cultura, nos esportes, nas artes, tem oferecido cursos desde o Jardim de Infância até o Ensino Médio. No passado, o colégio oferecia também os Cursos Científico, Pedagógico e Clássico.

Atualmente, ainda desenvolve um trabalho social voltado para a Escola São José, que funciona gratuitamente pela manhã e à tarde, e para a Escola Fundamental Nossa Senhora de Lourdes, que funciona à noite.

Pátio interno do colégio.


II - RELATO DAS VISITAS AO COLÉGIO

A nossa primeira visita ao colégio Nossa Senhora de Lourdes foi no dia 21de agosto de 2008. Fomos recebidas pela Diretora, Irmã Sueli, que nos informou da dificuldade de acesso a documentos antigos referentes às disciplinas, uma vez que só preservavam documentos dos dez anos anteriores, exceto documentos dos alunos.


A diretora, Irmã Sueli, respondendo às perguntas
da pesquisadora Sandra.

A pesquisadora Vera recebe da diretora uma publicação sobre o colégio.


Ela nos ofereceu uma publicação comemorativa dos 60 anos do Colégio, que ocorreu em 2000, e aceitou que fizéssemos uma pesquisa em álbuns antigos de fotos numa próxima visita. Na verdade, ela não nos passou diretamente muitas informações sobre o assunto principal da pesquisa: o ensino de arte até a década de 80. No entanto, foi preciosa a referência que fez a uma professora aposentada das Lourdinas, que atualmente fazia um trabalho voluntário na Escola São José, que é mantida pelo Colégio.

Com essa valiosa informação, fomos à Escola São José e conseguimos o telefone da professora.

Retornamos ao Colégio das Lourdinas no dia 27 de agosto de 2008 e passamos uma tarde folheando os álbuns de fotos antigas, na busca de imagens sobre o ensino de artes.

Pesquisa nos álbuns de fotos.

Sala de Desenho em 1951.

Constatamos que havia muitas fotos da sala muito bem equipada de ciências, fotos de eventos esportivos, das festas, das formaturas, mas havia poucas sobre o ensino de arte no período que nos interessava, entre elas encontramos fotos de um coral, de danças em datas comemorativas, de exposições de artes, etc.


Frase da foto: a atividade artística dá à vida alegria e entusiasmo. Atividade artística de canto coral (1976-1978).


Aula de arte culinária (1978).


Exposição de artes (1985).

III – RELATO DA VISITA E ENTREVISTA COM A PROFESSORA DE ARTES APOSENTADA.

Encontramos a professora Isolda Soares da Silva na manhã do mesmo dia (27/08).Fomos acolhidas com simplicidade e alegria, vestido azul solto, cabelos branquinhos, histórias emocionadas da sua vida pessoal e profissional. Abriu a porta da casa simples, lá nas Trincheiras, e descortinamos um outro mundo.


Dona Isolda – uma vida dedicada ao ensino dos trabalhos manuais.

Dona Isolda nasceu no dia 25 de janeiro de 1923.

Sem pagar ingresso, entramos num verdadeiro museu de trabalhos manuais cheio de preciosidades. Ali estava Dona Isolda, com 85 anos, o maior tesouro, e foi assim que a chamou o pai antes de morrer: “Minha filha, você é o meu maior tesouro!”


Técnicas diversas

Os trabalhos de Dona Isolda com sua foto quando jovem.

Ela guardou uma amostra de tudo que fez nos trabalhos manuais, ao longo dessas décadas. Tudo organizado, arrumado e limpíssimo.

Técnicas diversas.


Técnicas diversas.

Técnicas diversas.


“Gosto muito dos meus trabalhos”, assim ela vai dizendo e mostrando em todos os cômodos da casa, em todas as paredes, dentro dos guarda-roupas, como santuários, em todos os móveis, sua vida de professora de Trabalhos Manuais, Educação para o Lar, Artes Industriais e Artes Domésticas há quarenta e tantos anos.

Dentro do guarda-roupa, suas relíquias, seus trabalhos.

O santuário das artes manuais.

Ensinou na Escola Zulmira de Novais da Prefeitura, no GPT de Cruz das Armas, no Oscar de Castro, quando tinha apenas a 6ª série. Mas sabia fazer flores, botões de rosa, macramé etc. Muito tempo depois, em 1967, é que começou a ensinar nas Lourdinas.


Moldura de espelho em macramé.


Pinturas e outras técnicas.


Banquinho revestido com papel de revista e abajur.

Contou-nos, então, toda a sua luta para ser contratada como professora e para concluir o curso pedagógico, pois sempre era reprovada em matemática. Aprendeu muitas dessas "artes”, quando tinha 12 anos, nos cursos do Padre José Coutinho.


Relógio com aplicação de macramé.


Trabalho em tecido.


Trabalhos manuais diversos.

Posteriormente, fez muitos cursos, como o de Curso de Tecelagem no Serviço Social da Indústria – SESI/PB (1961), passando por Culinária e Trabalhos Manuais na Universidade do Lar Pirani – São Paulo (1962); Corte e Costura no SESI - PB; Plastispuma, em São Paulo (1962); Frutas de cera e Flores (1966), no Centro Social do Governo do Estado; Pátinas (1966) e Curso de metal (1967), também no Centro Social do Estado; Trabalhos em couro (1970) do Departamento de Serviço Social do Governo de Estado - Divisão de Ensino Profissional e Economia Doméstica; Cursos de Artes na Educação (1972) da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura de João Pessoa; Curso de Pintura acrilex (1973 ), no SESI - PB e Processos Desibitórios da criatividade, na Coordenação de Extensão Cultural – Setor de Artes Plásticas da Universidade Federal da Paraíba (1979).


Certificado do Governo da Paraíba.

Certificado da Prefeitura Municipal de João Pessoa.

Certificado do SESI.

Certificado da Universidade Federal da Paraíba.

Sua vida é história viva de uma fase do ensino de artes nas escolas; sua casa, uma espécie de museu, que guarda seus tesouros, dos quais ela tem muito orgulho.

Trabalhos em madeira com desenho criado pela professora Isolda.


Trabalho na técnica de pirogravura.


Criação na técnica de pirogravura.

Respondeu-nos sobre seus planos de aula, afirmando que era totalmente livre para planejar e escolher o que ensinar nos seus cursos.


Procurando os planos de aula.

Procurando os planos de aula.


O plano de aula continha lista de material e instruções.


Continuação do plano de aula.

A sua trajetória como professora ilustra bem a fase do ensino de artes nas escolas, voltada para os trabalhos manuais, educação para o lar, para as artes domésticas, portanto, mais direcionado para o sexo feminino e totalmente desvinculado dos movimentos artísticos da época.

Pela atuação profissional de Dona Isolda, pode-se comprovar que o ensino de Trabalhos Manuais, apesar das mudanças de concepção e terminologia ao longo dessas últimas décadas, permaneceu nas escolas particulares da Paraíba por um longo período.

A pesquisadora Sandra e Dona Isolda

A pesquisadora Vera e Dona Isolda
Nossos agradecimentos e nossas homenagens à Professora de Artes, Isolda Soares da Silva.
Nossos sinceros agradecimentos ao Colégio Nossa Senhora de Lourdes (Lourdinas) pela ajuda na realização da pesquisa.


Sandra Valéria

Vera Luna

4 comentários:

envolvartes disse...

Sandra e Verinha, o trabalho de vocês tá maravilhoooooso! Isso sim é que é pesquisa, estão de parabéns!
Beeeeeijos de Dani

Thaís Carvalho disse...

onde encontro hoje a Dona Isolda?Ainda é viva...
Me mande por e-mail...
annethais@hotmail.com

Unknown disse...

Gente , alguém sabe se d.Isolda ainda é viva? Minha primeira professora de artes...na escola profissional são José...tinha apenas 7 anos, ela me deixava participar das aulas...marcou minha vida!!! Alguém tem alguma notícia !? Meu e-mail rafinhacavalcanti2912@outlook.com

Unknown disse...

MINHA Mãe deixou bons ensinamentos