domingo, 24 de agosto de 2008

Conhecimento Acumulado

No início da disciplina fomos sondados sobre o nosso conhecimento sobre o ensino das artes visuais. Escrevi que não sabia muito, exceto sobre a minha experiência como estudante. Hoje posso dizer que consegui acumular muita informação a respeito. Talvez ainda esteja um pouco perdida porque tento seguir uma linha tradicional, mesmo que mentalmente, percorrendo uma linha do tempo, uma linha evolutiva.

O ponto de partida da disciplina foi o Jesuitismo e, aqui, ficou bem claro que os jesuítas tinham a consciência da importância da imagem, usando-a na ‘catequização’. E foi justamente uma imagem o que mais me marcou nessa aula: a imagem da infância de ouro, prata e bronze. O trabalho de uma ex-aluna que construiu uma pirâmide usando elementos figurativos, expondo a diferenciação que existia no ensino de acordo com a camada social na qual se encontrava determinada criança. Ouro eram os nobres, prata eram as crianças que seriam treinadas para falar bem, como religiosos, por exemplo, e bronze era a designação para a camada pobre, o ‘resto’, os que precisariam de treinamento profissional.

Como nosso estudo foi focado na infância, nossa primeira tarefa foi uma pesquisa sobre imagens de crianças nos anos 60. Encontramos, eu e Antonio, muitas imagens interessantes, inclusive de uma escola no interior no São Paulo, com toda a documentação fotográfica das instalações, incluindo sala de artes, de línguas, de geografia, hall de entrada, rotina dentro do ônibus escolar, etc... Dessa pesquisa algo que chamou a atenção foi a diferença como foram retratadas as crianças ricas, pintadas ou fotografadas, diversamente das pobres.

Após uma breve ausência, por motivos pessoais, retornei à disciplina e encontrei a turma estudando Educação pela Arte - movimento onde a arte era vista como manifestação emocional. Por isso, havia um incentivo ao contato, entre aluno e professor, com maior intensidade, freqüência e afeto. Seus principais idealizadores foram Herbert Read e Viktor Lowenfeld. No Brasil, esse incentivo à expressão artística espontânea acabou por supervalorizar a criança e a importância do seu processo criativo superou a do resultado do projeto. Augusto Rodrigues seria o líder desse movimento que veio a se chamar EAB, Escolinha de Arte no Brasil.

Esse intenso e calmo contato entre professor e aluno se inverte quando estudamos as Artes Industriais, onde o ensino da arte era direcionado à indústria e ao desenho industrial. A educação deveria ser mais prática e profissionalizante passando a ter uma maior utilidade, a da sobrevivência e da adaptação a um fato novo, a chegada da indústria - que iria necessitar de mão-de-obra especializada. Aqui no blog fiz uma postagem sobre esse tema com uma comparação fotográfica impressionante entre a sala de aula e o ambiente industrial. Muitas vezes é até possível confundirmos esses dois tipos de imagens.

Outro direcionamento prático, semelhante ao que ocorreu com as Artes Industriais, aconteceu com as Artes Aplicadas que eram conduzidas para o lar. A educação voltou-se para o lar, mas de maneira diferenciada entre os sexos. Os meninos tinham seus estudos artísticos denominados de Trabalhos Manuais e eram voltados para a produção técnica do desenho, enquanto que às meninas eram ministradas aulas de economia doméstica.

Percebemos, pelo que já foi exposto, que a postura do professor variou muito em relação à criança e ao ensino. Hoje podemos fazer uma comparação entre o que foi o professor de Educação Artística e o Arte Educador. Aquele era polivalente e superficial, cuja função abrangia as áreas de cênicas, plásticas e musicais, mas sem muito aprofundamento e em um processo de inércia no qual ficava esperando que os alunos exteriorizassem sua arte sem uma orientação mais eficaz do professor. Este induz a formação crítica do aluno, principalmente através de contato com obras de arte, acreditando que através do exercício o aluno pode se desenvolver - a arte deixa de ser um ‘dom’.

A proposta da disciplina era mostrar, de forma histórica, através de imagens, como a infância era mutável e como isso afetava diretamente o professor e a educação. Isso foi cumprido.



Karlene Braga

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