quarta-feira, 30 de julho de 2008

AUGUSTO RODRIGUES E A SUA RELAÇÃO COM A ARTE

Oi turma!
Encontrei esse texto que expõe de forma concisa, a trajetória do educador pautada em inquietudes e anseios frente ao ensino de Arte.
Significativa e de uma essência... essa sua frase.




Augusto Rodrigues: um educador com arte
Mara Lúcia Martins

Detesto a escola repressiva... Eu tinha também a minha vida fora da escola, e muito plena. A vida onde havia o devaneio, a exploração do rio, a natureza, os jogos onde a fantasia estava muito presente.
(Augusto Rodrigues)

Augusto Rodrigues nasceu em Recife/PE, em 1913. Pintor, desenhista, gravador, ilustrador, caricaturista e poeta, trabalhou no ateliê de Percy Lau e realizou sua primeira exposição individual em 1933, ainda em Recife. Dentre seus trabalhos os ligados ao desenho são os de maior repercussão nas artes, mas em qualquer de seus trabalhos existia lirismo, sensibilidade cromática, concisão formal e beleza do desenho.
Em 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro onde começou a aparecer nos jornais como ilustrador e realizou uma das suas maiores obras: em 1948 ele fundou a Escolinha de Arte do Brasil (EAB), na Biblioteca Castro Alves. A escola tinha como característica a diferença das consideradas "normais" e era freqüentada por crianças, as especiais principalmente, que podiam desenhar em grandes papéis, cantar, desafinar, colher flores no jardim e brincar, acima de tudo, e muito!
Essa noção moderna de escola foi baseada por Augusto Rodrigues na sua própria infância - quando criança não se deu muito bem nas escolas, não por não ser inteligente, mas porque desde muito cedo possuía alma de artista e percebia as coisas de modo divergente, não se adaptava às normas e ao excesso de regras das escolas convencionais. Ele dizia: "No fundo, eu me formei na rua, em contato com as pessoas, evidentemente passando por uma escola. A minha primeira escola foi uma experiência muito triste porque não só eu me via impossibilitado de me movimentar, de falar, de viver, como também olhava as outras crianças impedidas igualmente de se expressarem.
A escola era sombria, era triste, a professora também era sombria, e eu sentia uma preocupação, uma tensão dessa professora de imprimir nas crianças coisas que não tinham nenhum sentido para elas. Nós teríamos que aprender o que interessava a ela ensinar e teríamos que abdicar aquilo que era fundamental para nós, que era brincar". (...)
EAB fez a diferença na carreira do educador

Na criação da Sociedade Pestalozzi - uma escola para educação de crianças especiais - a contribuição de Augusto se deu quando se tornou professor de crianças e adultos. Principalmente com as crianças aprendeu que a atividade artística poderia ser motivo de estudo, registro e debates. Dona Helena, criadora da Sociedade, acreditava que a arte, como expressão livre e criadora, era o meio de educação por excelência, e que o artista tinha um papel fundamental na educação - maior do que os pedagogos e psicólogos. Por isso convidou Augusto Rodrigues para lecionar na escola.
Já uma das maiores criações de Augusto Rodrigues foi feita nos anos de 1970, juntamente com a gaúcha Lúcia Alencastro Valentim e a escultora norte-americana Margareth Spencer - a Escolinha de Arte do Brasil (EAB). A criação desta escola, fora do modelo oficial, há muito habitava os sonhos de Augusto. Logo cedo desejou fazer arte e, certa vez, conta ele que tentando vender uma assinatura de jornal ao psiquiatra Ulisses Pernambuco travou o seguinte diálogo: "Ele me perguntou se eu ia à escola, eu respondi que não (...). O que você gosta de fazer? Eu disse que gostava de fazer arte e ele respondeu: Muito bem, faça arte. Você tem que fazer aquilo que gosta para não ficar à margem da profissão".
A EAB, hoje espalhada por vários pontos do país, oferece à criança uma proposta diferente com a oportunidade para atividades de criação artística. Representa, no Brasil, alguma coisa que se poderia considerar óbvia, e que, entretanto, é, no gênero, talvez, o que mais significativo se faz entre nós no campo da educação infantil.
Ele mesmo definiu, como ninguém a EAB: "Na imensa aridez da paisagem das escolas nacionais, paisagem que lembra aspectos de nossos desertos, as escolinhas de arte são oásis de sombra e luz. Em que as crianças se encontram consigo mesmo e com a alegria de viver, tão 'deliberadamente' banida das 'escolas' convencionais de 'retalhos de informação', secos e duros como a vegetação habitual das zonas áridas. Mas não é somente a escolinha de arte uma inovação pedagógica. É também inovação do próprio conceito de arte, pois esta já não é a atividade especial das criaturas excepcionais, mas atividades inerentes ao senso humano da vida, que, felizmente, ainda se pode encontrar nas crianças que não foram completamente deformadas pelos condicionamentos inevitáveis da instrução morta e fragmentada das escolas convencionais.
É essa a grande motivação das escolinhas de arte - dar às crianças oportunidade para a mais educativa das atividades, a atividade da criação artística".
Fica então muito bem circunscrita a contribuição de Augusto Rodrigues para a Arte/Educação brasileira - o seu conhecimento espalhou e estimulou em todo território nacional a necessidade de inclusão da Arte na educação escolar, chegando a confundir sua história com a EAB. (...).
FONTE:
Walquíria Araújo

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