quarta-feira, 9 de julho de 2008

Aula de Desenho

...estava na hora da aula de Desenho. Você estava com todos os lápis de cor à sua frente e ficava esperando, de braços cruzados. E aí chegava correndo aquela pobre mulher abatida, que já tinha ensinado Desenho em mais 14 salas de aula, naquele dia. Ela entrava correndo, o chapéu torto, ofegante e dizia: “Bom dia, meninos e meninas. Hoje vamos desenhar uma árvore!” E aí ela se levantava com um giz verde e desenhava aquela coisa verde grande. E depois punha uma base e uns capins e dizia: “ Aí está a árvore.” E a garotada olhava e dizia: “Isso não é uma árvore, é um pirulito”. Mas ela dizia que era uma árvore e depois distribuía os papéis e dizia: “Agora desenhem uma árvore”.
Na verdade não estava dizendo “desenhem uma árvore”, e sim “desenhem a minha árvore”. E quanto mais cedo você descobrisse que era isso que ela queria e pudesse reproduzir esse pirulito e entregá-lo a ela, mais cedo ganharia a nota A. Mas lá estava o pequenino Junior, que sabia que aquilo não era uma a árvore, pois ele tinha visto uma árvore como aquela professora de Desenho nunca vira! Tinha caído da árvore, mastigado a árvore, sentado nos galhos de uma árvore, escutara o vento soprando nas folhas de uma árvore, e sabia que a árvore dela era um pirulito. Assim ele pegou o lápis de cor magenta, laranja, azul, roxo, verde e rabiscou a folha toda e a entregou à professora, todo feliz.
Ela olhou para o papel e disse: “Ah, meu Deus – lesão cerebral – Turma Especial”.

Trecho do livro “Vivendo, amando e aprendendo” de Léo Buscaglia
Vera Luna

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