
Diferentes sociedades tinham noções diferentes de infância. De um lado, a infância da aristocracia rural e da burguesia concebida de acordo com padrões europeus, trazidos pela revolução industrial. A instrução elitista, universalista e enciclopédica era associada à idéia de castigo. As práticas culturais e escolares resultaram numa “infância macambúzia”, segundo os termos com que Olavo Bilac (1865- 1915) intitula uma crônica de 1908, em que recorda seus tempos de infância:
(...) nunca fui verdadeiramente menino e nunca fui verdadeiramente moço.
A cousa não teria importância, se fosse uma desgraça acontecida a mim somente: mas foi uma desgraça que aconteceu a toda uma geração. Toda a gente do Rio, que tem hoje a minha idade, deve estar sentindo, ao ler estas linhas, a mesma tristeza.
Fomos todos criados para gente macambúzia, e não para gente alegre.
Nunca nos deixaram gozar essas duas quadras deliciosas da vida que em que o existir é um favor divino. Os nossos avós e os nossos pais davam-nos a mesma educação que haviam recebido: cara amarrada, palmatória dura, estudo forçado, e escravização prematura à estupidez das fórmulas, das regras e das hipocrisias. (...)
"É preciso estar quieto! É preciso ser sério, é preciso ser homem!".
Tanto nos recomendaram isso, que ficamos homens. E que homens! Céticos, tristes, de um romantismo doentio... (...)
Do mesmo modo, desabafa Mário de Andrade:
Não sei que noção prematura de sordidez dos nossos atos, ou exatamente, da vida, me veio nessa experiência da minha primeira infância. O que não pude esquecer, e é minha recordação mais antiga, foi, dentre as brincadeiras que faziam comigo para me desemburrar da tristeza em que ficara por me terem cortado os cabelos, alguém, não sei mais quem, uma voz masculina falando: "Você ficou um homem, assim". Ora, eu tinha três anos, fui tomado de pavor. Veio um medo lancinante de já ter ficado homem daquele tamanhinho, um medo medonho, e recomecei a chorar.
A educação no Brasil não mudou muito nos primeiros anos após a proclamação da República; o modelo social republicano, caracterizado pela valorização do saber e por campanhas pela alfabetização e pela escola, só começaria a se impor a partir da década de 1920. Até o final do século XIX, e durante as primeiras décadas do século XX, a criança brasileira parece ter continuado a ser vista e tratada como um "projeto de adulto".
Os meninos começavam muito cedo a ter a aparência de homens: eram “adultos em miniatura”, principalmente os mais ricos, trajados à moda européia.
As representações das crianças dessa época parecem confirmar a idéia de que eram miniaturas de adultos.
Por outro lado, temos que considerar as diversidades regionais e sociais do Brasil: o do litoral, moderno e urbanizado; e o do interior, arcaico e estagnado. Esses dois Brasis existiam nas grandes cidades. É o que retrata a foto representando essa outra infância: a dos meninos que viviam do reaproveitamento de resíduos deixados pela urbanização.
Infância pobre das crianças do final do século XX e início do século XX
Imagens: 1) Monteiro Lobato e as suas irmãs, na década de 1880.
2) Monteiro Lobato aos 12 anos
4) Anúncio da "Revista da Semana", de 19/03/1918, que mostra uma criança vestida como se fosse um adulto em miniatura, inclusive fumando
5) Anúncio de "costumes" para meninos de 2 a 12 anos, extraído de "Jornais brasileiros do fim do século XX e início do século XX"
FONTE: http://www.unicamp.br/iel/memoria/ensaios/republicavelha.htm
POR: Danielle Costa
Vera Luna
Um comentário:
Parabéns Dani e Vera pela excelente contribuiçao que trouxeram...
Abraços,
Erinaldo
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